A Árvore que Chora

Chora a árvore de raro passado,

No alto relevo, onde o amor habitou

Árvore de ruidosos ramos, cúmplices da orgia.

Teu semblante, minha mente pega

Executa delírios insanos e polidos

Quando só me encontro,

Em profundíssimo desencontro

Ah! Desencanto.

Derramas, rasteira, as lágrimas vividas

Melhor tê-las a ser de vidro, infiel

Encerras tuas mágoas em nome da poesia

Meta-as em canoas prófugas, sem bilhete de volta.

Tua aurora agrisalhou, levada pelo tempo;

Não desalentes!

Colhas teus frutos carnudos e os arremesses à areia

Suas sementes lhe proverão filhos, armazenados irão.

Triste e ermo restou teu altar, relíquia gulosa, visceral

Mesmo entregando o bastão,

Aperreies não!

Noviços não saberão rezar tua missa, mas tiveras o tempo

Perquiras um rastro de esperança, delgado talvez

Não há o que temer!

És a lenda, o oratório, a emoldurada paixão;

Tu vistes fluir o mel amendoado, rançoso de tão sacarino

Era colchão, a toalha embebida em vinho, saudoso buquê.

Na tarde ardente,

Entoavam notas de músicas marcadas,

Tão perfeitas que Deus duvidava das coisas,

Estarrecido, acompanhava os detalhes

Contudo, não acreditava!

Lembras, árvore, o que vistes na tarde à ignorância dos outros?

(Um maroto sorriso tolheu o choro à metade)

Petrifiques este cerne que conténs,

Tripudies das outras árvores a penarem pelo mundo,

Elas não completarão seus ciclos no êxtase.

Tragas todas as auroras para perto de si,

Não negar-te-ão o pólen,

Respires fortemente a cada anoitecer,

Não estarás sozinha!

Nossos pensamentos singrarão milhas

A retocar a sua maquiagem

Não digas bobagem! Ponhas-se ao fresco.

Se hoje tens o lodo, ele ainda te fertiliza

Se tiveres a dor a esganar-lhe o peito

É porque fostes história;

Naquela tarde, à tua sombra

Dois dadivosos se amaram.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 18/07/2006
Código do texto: T196587
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