Ruínas
Amigos, se noutras esquinas me fiz morto para sobreviver, se aqui em meus aposentos pútridos eu tento não viver, se as contradições da minha vida se acoplam à angústia que me abate, sabei, as minhas ruínas ainda estão de pé. Não façais caso ridículo disso, não há ruinas de pé, há as MINHAS ruínas de pé. E que ruínas são essas? São as exatas, as cruentas, as mais assoladoras, posto que me vem à mente, e somente à mente, nos momentos mais lúgubres. São um quebra-cabeça desajeitado, composto de feições, abismos e loucura. São a minha alma às avessas defronte ao espelho. E se me faço amigo teu, companheiro dos momentos mais férteis da tua mente, amigo das granas e dos trocos, amigo dos pecados originais, é por que não sou amigo... Sou apenas a loucura exposta nas entrelinhas da tua crua vida. Vem amada, vem. Vinde ao teu noivo no último dia, sê pura nos últimos dias, pois à hora da tua chegada, esperarei o momento mais banal para confessar-me e agarrar-me aos teus mutirões, numa tentativa de salvação coletiva, numa tentativa de ser penetra no reino dos salvos. E se for caso raro ruínas permanecerm de pé, sê atento: é da minha mente que falo.