{A manhã...}
A manhã tem gosto de cabo de guarda chuva, esse gosto na boca do que foi gasto, do que foi guardado e se preservou só uma sensação de ter vivido algo e de impossível lembrança, só a impressão estranha estampada de estar aqui , ou de não lembrar o que aconteceu.
No quartinho, o mesmo gosto, o mesmo cheiro, o mesmo céu de saigon lá de fora. Os meus olhos de despedida de quem não se lembra se houve sequer despedida e de quem? Mas a cinza impressão de que houve a perda.
Não há nem um espelho para para eu ver se ainda tenho a mesma face. Nunca houve espelhos na casa, no quartinho não há e quer saber de uma coisa? Eu gosto de não ter espelhos me seguindo, me olhando até no escuro do cômodo.
Toco minha face de sombra vencida quando procuro
inutilmente outra face. Toco as palavras com a boca, cravo os dentes, passo a língua, acaricio querendo possuí-las, e nelas me presentifico. Tomo corpo nas palavras, eu as visto, e elas também me vestem. Saio à guisa de nada. Consubstancio-me à palavra agora.
Amanhece e não há nem um arco-íris no céu nessa manhã de saigon.