Lembranças

Vejamos a imagem em sua completa essência:

Estávamos lá, à sombra daquela estrondosa árvore, testemunha do nosso amor, cúmplice dos nossos segredos. Estávamos amando, um ao outro, com a inocência dos puros, co'a pureza dos inocentes. Era linda aquela cena: Eu compunha canções a ti, e tu, docemente me aquecias no teu colo amável. Eras mãe, mulher, companheira, amiga. Eras a sinopse estranha da minha vida. E de repente tudo se acabou, tudo se esvaiu. Onde está a felicidade? Onde a filosofia que nos tomava o tempo? Onde a pureza que nos prendia às águas da vida? Estávamos lá... Estamos aqui, repartindo do mesmo espaço, da mesma loucura, dos mesmos segredos não mais secretos, do mesmo momento lúgubre. Oh, dona, por que tudo acabou assim? Por que a fuga? Por que a morte?

E fiquei só, a sós comigo mesmo. E te reencontrei. E nos amamos pela última vez. E minhas lágrimas hoje servem de consolo para a perda tua em mim, para a perda tua em meu ser. Perdi-te, amada.

Restam-me agora os papéis, as canetas,a burocracia imbecil do meu mundo e as lembranças da lembrança maior: a lembrança do meu amor subdividido- O amar e o amor, num só corpo, numa só pessoa, a uma só mulher.

E estávamos lá, a contemplar toda a cena...

E estamos aqui. E a cena não mais existe.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 05/12/2009
Reeditado em 19/12/2009
Código do texto: T1961800