NÃO SEI
Nada peço em troca do que não posso oferecer
E se o que possuo algum valor pode ser dado
Então não contesto aquilo que faço sem a pretensão
Dos poetas que nos brindam com sábias palavras
E nos fazem menos vítimas das loucuras diárias.
E nas avenidas entupidas de carros e seus condutores apressados
Como a artéria obstruída pelo coágulo há anos de fast food
Que impede a livre circulação do líquido vital
Jazem nos hospitais entupidos de candidatos ao além
Generais, prostitutas e pessoas de “bem”.
E nas igrejas e templos de arquitetura moderna
Apenas os pecadores que não se arrependem
Condenados estão ao fatídico fim reservado
Pela divina mão que nada perdoa e é justa.
Podem, meus senhores, seletos senhores
Donos da verdade cantada aos quatro cantos
Desse mundo que segue sua rotina e lógica
Prescrita nos sagrados escritos
Gritarem suas regras seguidas às cabeças baixas
E dispostas a obediência inconteste e moribunda.
Assim tem sido ao longo dos tempos
E àqueles que ousaram à resistência
Não há relato que negue o fim alcançado
E o monumento ao soldado desconhecido
Recebe flores dos chefes de Estado
E às valas comuns
Outros tantos sem farda jazem no sepulcro coletivo.
O que dizer, então
À criança que nasce já condenada à miséria
Repetida ao longo da história e dos séculos?
E os pulmões frágeis dos fumantes eczêmicos
Sem força para puxar o ar poluído das cidades
Que avançam sobre as vidas idosas e infantis
Não agüentarão à falta de leito.
Assim, nobres e seletos senhores
Todos os dias estão próximos
Do abismo que se abre a cada esquina
Propícia ao ladrão que nos atacará
Por um relógio ou tênis ou até por nada.
E os jornais na guerra da audiência elevada
Mostrarão repetidas vezes cenas vendidas
Por cinegrafistas amadores prontos à primeira imagem.
E o espetáculo onde não se paga ingresso
Amortecerá os instintos dos revoltados
Negadores da paz que reina entre os irmãos
E a ordem será enaltecida por todos os meios.
E cumprida sua função
E os ânimos sob controle sem o uso da força
Chamar-se-á o comercial para a oferta de produtos
Que estarão nas lojas dos shopping centers
Modernos e bem construídos pelas mãos
Dos impedidos de adentrar tão logo se inaugura.
E a roda da vida não pára
Porque amanhã será outro dia após outro e outro
E eu nada peço em troca do que não posso oferecer
E despejo no papel as letras das dúvidas que tenho
E as ofereço a ti, caro amigo
Como um convite para que juntos apreendemos
O que nos legaram os antepassados.