Sei que vou passar mesmo a noite em claro. E nem sei quanta vida pode haver nessas poucas linhas. Ou se as palavras são suficientes para expressar o que ainda há de vida.
Estou mais perto do velho do que do menino. E o que há de jovem em mim está nas canções que gosto de ouvir. E isto nunca vai morrer.
Hoje entendo melhor o que antes não entendia naqueles que viveram tanto parecer somente resignação e o fato de não ser somente isso.
Sei que o que é muito mais que amor não pode ainda ser chamado por esse nome. E que meu coração não está frio e nem endurecido. Meu coração está quieto como quem sabe a hora de gritar. Como quem sabe que ainda não é hora.
Só entende de distâncias quem ousa entregar-se a proximidades. Só entende de silêncios quem pode escolher a hora de gritar. Entende de madrugadas quem é capaz de ficar sem dormir. O contrário de tudo pode ser o certo: não haveria luz se não houvesse a escuridão.
Mas agora haverão de não entender meu silêncio. E esse meu olhar taciturno para o vazio será sempre confundido com tristeza. Mas será somente quietude que me traz essa incompreensível paz para o coração. Que sabe que é mais que amor isso que não tem mais nome, que não cabe em tão poucas e pobres palavras. E se meu coração ensaia o grito, tem que saber a hora de gritar. E a hora de calar, para ser um tudo em meio a quietude.
Eu sou daqueles que pouco se importa com o fato de que se mede o tempo. Que é capaz de imaginar que trinta dias é o mesmo que um ano. E que seis meses demora só uma semana para passar.
Assim a vida não é ínfima, mesmo que também não seja eterna, a vida é o que se vive no tempo em que se é capaz de viver. Intensamente.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 29/11/2009
Reeditado em 28/08/2021
Código do texto: T1950058
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