REPLAY
Estou acordada no silêncio escuro de um céu sem lua. Mais uma vez a madrugada me encontra desperta e sozinha. E, como tantas noites passadas, tantos pensamentos repetidos... E se repetem, de novo, os mesmos sons noturnos que eu ouvia quando a garoa fininha iniciava, quando o frio do inverno penetrava meus poros ao me debruçar na janela, quando uma lágrima congelada caia na calçada e eu sofria. E ouço ainda o mesmo som desafinado dos insetos que em outros tempos povoaram meus verões, quando estão eu ainda na janela perdia o olhar nas trevas e via apenas estrelas na imensidão do firmamento e me perdia no espaço, a procura desatinada de um sopro, de um calor, de um vulto que me fizesse menos sozinha.
O tempo passou, eu sei, e eu mergulhei nesse mar negro e vermelho, nessa sucessão de dias e noites, de sol e lua, de calor e frio. Acho que me perdi muitas vezes, acho que me encontrei outras tantas vezes. Não sei exatamente o que perdi, acho que muito se foi e quase tudo de mim ficou por aí, nos corações de quem cruzei _ eu me dei... Não sei o que ganhei, acho que nada ficou e quase tudo que eu quis se perdeu nos rigores do inverno, nos calores do verão _ pouco me deram...
Não vou chorar agora. De que me vale perder as poucas lágrimas que me restam, se elas não vão me trazer um novo alento? Não vou sorrir também. Que sorriso apagaria o caminho triste do passado?