Calendário

Os dias passam

Como nuvens distantes

Pouco a pouco

Disfarço

Lentamente desfaço

Pequenos pedaços de mim

O referencial é duvidoso

O olhar, enganoso

A cada ciclo

Uma pequena morte

Há grande chance de

Uma pequena vida

Aos restos

Somados e despejados

Faz-se outro mês

Feito ano bissexto

No fim de tudo

Começa outra vez

Os dias passam alterados

Pseudo alternados

No tic-tac sem compasso

Do meu relógio biológico

Procuro a ilusão dos dez

Dias omitidos, esticando

O tempo feito

Gregoriano

Faço o meu próprio

Intervalo Juliano

Versando o tempo

Invertido, subversivo

No congelar poético

Divido o invisível

Buscando nele o impossível:

Manter-me impassível

Ao passar dos dias

Em lacunas me escondo

No calendário

Em que me encontro

E mais me perco que me acho

Eis um papel em que não me encaixo!