ADULTERIO II

Não sei. Desconheço quanto tempo andei até encontrá-la novamente.

Talvez um século? Ou apenas um mês? Poderia ser. De qualquer forma, um tempo enorme, enorme,..., enorme.

Por fim, como uma rosa súbita, repentina campânula tremendo, a notícia.

Saber de repente que ia vê-la outra vez, que a teria perto, tangível, real, como nos sonhos. Qué explosão contida! Qué trovoada surda rolando nas minhas véias, estalando lá encima baixo meu sangue, em uma noturna tempestade!

Finalmente o re-encontro. E aquela maneira de nos saudar, de forma que ninguém comprendesse que essa é nossa própia maneira. Um roçe apenas, um contato elétrico, um apertão conspirativo, um olhar, um palpitar do coração gritando, uivando com silenciosa voz.

Depois, esse redemoinho das palavras presas, palavras de olhos baixos,

penitenciais, entre testemunhas inimigas.

Nosso amor proibido é um amor assim, é um amor de abismo em primaveira, cortés, cordial, feliz, fatal.

A despedida, em seguida, genérica, no turbilhão dos amigos.

Vê-la partir e amá-la como nunca; segui-la com os olhos, e já sem olhos seguir vendo-a longe, lá longe, e ainda segui-la mais longe ainda, feita de noite, de mordedura, beijo, insónia, veneno, êxtase, convulsão, suspiro, saudade, sangue...

Feita dessa substância conhecida com que se moldam as estrelas.

(Baseado num poema que gosto muito de autoria de Nicolás Guillén. Espero que também gostem)

Daniel Dantas
Enviado por Daniel Dantas em 24/11/2009
Reeditado em 17/02/2010
Código do texto: T1942222