“DÁ LINHA, TIÃO...”

Era bom empinar pipa

Correr livre pelo campo

Ver quem ia mais alto

Se Tião, José ou Luís

À noite na estação

Passava o trem de ferro

Ele vinha de São Paulo

Trazendo moço bonito

Novas nas suas janelas

E sonhos da capital

No jogo das cinco Marias

As mais velhas reunidas

Faziam figa e catiça

Pra chegar a sua vez

Brincávamos de casinha

De médico e de parteira

A boneca feita de pano

Que paciente, coitada!

Era operada pra vermos

O que havia dentro dela.

Íamos catar gabiroba

Com casais de namorados

O moço então nos dizia

Que a frutinha madurinha

Estava no pé mais longe

Que será que eles faziam?

Inocência de criança

Enquanto frutas pretinhas

Eram tiradas dos pés

Enchendo muitas vasilhas

O máximo de travessura

Ficar atrás das moças sentadas

Com seus vestidos rodados

A murchar a roda da saia.

Que divertido, quando elas

Olhavam todas garbosas

Pensando estar se exibindo

- A saia murcha, quem foi?

Era motivo de queixa

Pra mãe brava que ralhava

Mas logo vinha um agrado

Um bolinho, um cafuné

E dia após dia, tudo se repetia

Mas isso ninguém percebia

Tudo era novo outra vez

Chupar manga com leite

Esperar a morte, o mistério

Estórias no terreiro à noite

À beira de uma fogueira

São imagens inapagadas

Desenhadas no Interior...

21/11/09