TRANSITÓRIO
Nem sempre parece,
mas acabo achando que é assim que as coisas se passam.
Passando.
Não há como abrir as pernas, fincar bem os pés no chão
e encarar o mundo de braços fletidos e punhos cerrados,
pronto para um combate desigual trocando socos.
Não existe isso.
Não se socam os dias no nariz.
O mundo não se combate, navega-se.
Cavalgamos-lhe as ondas como a corcéis
estremecentes de energia,
e, nelas, nos espraiamos pela vida
num derramar de força anímica
que nos assina, pelo cosmos e pelo tempo,
no cursivo miudinho e lento da nossa escrita
- e na fragilidade etérea do nosso traço pessoal.
( - porque a vida é pessoal, creiam-me !!
Jamais a fofoca em que alguns teimam absurdamente... )
Somos como peões de rodeio,
lutando para permanecer na sela
os oito segundos necessários à glória
e ao reconhecimento dos outros,
de todos os outros,
não só daqueles que queremos impressionar.
E nem sei se podemos escolher não montar,
ou se deuses mais antigos nos vedam
os caminhos de fuga aos seus desígnios ocultos,
disfarçando-os com a aparente normalidade dos dias.
Talvez nos escondam os altares,
onde imolaríamos em prol de causas maiores
que os desfechos adivinhados das suas vontades
mil vezes questionadas, e mil vezes incompreensíveis...
Ou talvez os deuses finjam bem demais,
e, vistos de longe, os movimentos dos seus dedos
batam certo com os nossos gestos de marionetas,
como se nos puxassem os fios e fossem, afinal,
falsos titereiros do que seria
-para todo o sempre -
uma imperdoável exploração do amor...