SER NEGRA

Negra é a mulher que tem sido minha irmã, que nos ermos do meu mundo guia-me os passos hesitantes, feitos de dor.

Negra é a pele que me vai por dentro, herança dos meus ancestrais.

Negro é o blues que me invade, com todas as suas línguas feitas de saudade e de desterro.

Negras são certas saudades: volúpia,sofrimento.

Negra é a linda canção que cantava a filha daquele que foi meu homem, canção que ela aprendeu com sua avó.

Negra é a negra noite, quando se sonham os sonhos mais profundos.

Negro de belezas é o silêncio dos amantes plenos um do outro.

Negra sou eu quando deixo que acordem em mim todas as áfricas.

Negra é a África, berço do mundo.

Felizes dos que se alegram, dos que se orgulham pelo negro, pela negra que todos carregamos por fora, por dentro; negritude que nos amplia, que nos ensina, que nos ultrapassa, que fere os nossos limites, para que possamos prosseguir.

Zuleika dos Reis

Escrito na noite de 20 de novembro de 2009, Dia da Consciência Negra.