Na ponta do lápis

Há dois minutos eu pude ver teus movimentos mais suaves, e que espetáculo inaudito o teu ser em corpóreos movimentos no abstrato da sala ! Há dois minutos eu pude ver as tuas lágrimas regando tua face, como um acalanto à antiga, como um conforto de criança. Há dois minutos eu te vi nas prisões, cheio de rancor e ódio, cheio da incapacidade de ser e estar liberto. Há dois minutos eu estive aí, sob a penumbra do teu coração, nas entrelinhas da tua alma, modificando teu ser, desajeitando teus jeitos. Há dois minutos eu fui ao abismo, ao inferno, aos céus de Allah, aos céus de Javé, às camas de Salomé, ao meu íntimo-e-profundo-ser. Há dois minutos fiz a maior força para que meu ser manifestasse a mínima noção de amor por ti... Há dois minutos mantive minhas promessas. Há dois minutos percebi que a melhor maneira de modificar algo é deixar que a modificação natural das coisas o faça. Há dois minutos havia palavras... Há dois minutos havia vida... Há dois minutos eu estava aqui: na ponta do lápis.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 19/11/2009
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