[Do Desejo, a Dúvida]

A dúvida excita os hormônios,

e num sobressalto, lança-me

na rua nessas horas ermas,

só para ver se ela dorme mesmo,

ou se por acaso... Mas, e se a luz

do quarto ainda estiver acesa?!

Torno a passar pela rua dela...

Falta-me coragem de chamar!

Respiro... Lanço então a minha

dúvida de brancas velas soltas

a navegar no Mar da Tranqüilidade...

Nossa! Como isto soa falso!

"Todo significado é resposta

a uma questão" — e agora,

a questão é este desejo atroz,

que teria sido a causa da dúvida,

que me lançou em horas ermas

a vagar por essas ruas desertas,

e que me faz pensar se...

E o significado desta dúvida,

concluo, é que é sempre possível

viver o que eu desejo...

mas só no instante vigente,

ao depois, tudo é incerto,

[torno a passar na rua dela...]

e a prova é aquela luz acesa!

Amanhã, tudo pode ser nada...

Mas e agora... ah, agora,

a certeza extinguiria o sonho!

Apenas passo, e vou-me embora;

escolho ficar na dúvida —

bebo todo o veneno da dúvida!

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[Penas do Desterro, 19 de novembro de 2009]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 19/11/2009
Reeditado em 09/07/2012
Código do texto: T1931726
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