[Do Desejo, a Dúvida]
A dúvida excita os hormônios,
e num sobressalto, lança-me
na rua nessas horas ermas,
só para ver se ela dorme mesmo,
ou se por acaso... Mas, e se a luz
do quarto ainda estiver acesa?!
Torno a passar pela rua dela...
Falta-me coragem de chamar!
Respiro... Lanço então a minha
dúvida de brancas velas soltas
a navegar no Mar da Tranqüilidade...
Nossa! Como isto soa falso!
"Todo significado é resposta
a uma questão" — e agora,
a questão é este desejo atroz,
que teria sido a causa da dúvida,
que me lançou em horas ermas
a vagar por essas ruas desertas,
e que me faz pensar se...
E o significado desta dúvida,
concluo, é que é sempre possível
viver o que eu desejo...
mas só no instante vigente,
ao depois, tudo é incerto,
[torno a passar na rua dela...]
e a prova é aquela luz acesa!
Amanhã, tudo pode ser nada...
Mas e agora... ah, agora,
a certeza extinguiria o sonho!
Apenas passo, e vou-me embora;
escolho ficar na dúvida —
bebo todo o veneno da dúvida!
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[Penas do Desterro, 19 de novembro de 2009]