PERDI A ESPERANÇA

Ontem eu caminhava com Deus. Um Deus de amor e bondade, que me mostrava um caminho de paz e glórias. Meu Deus era pura paixão, compaixão. Cada irmão que encontrava, eu me via nele e via Deus em mim, sorrindo e abraçando aquele irmão, com uma esperança infinda em meu coração. Tinha como lema a caridade, que julgava irmã pura da verdade e da solidariedade. Estendia minha mão e dava o óbolo que mitigava a fome, a sede, a carência, fosse ela do que fosse, pois sempre senti que qualquer carência (de valores, sorriso, afagos, dinheiro, bens materiais, bens espirituais), deve ser suprida com a alma, com o coração. Deus assim me ensinou.

Caminhava ereto, firme, resoluto, pois acreditava numa vida plena de benesses, provindas das ações que praticava. Não que minhas ações fossem praticadas para recebê-las, pois nada disso me incomodava, praticava porque isto estava incorporado em mim, pela minha criação, pela minha formação.

Esse Deus me supria, pois vivia 24 horas do dia imaginando-O, em permanente contato com Ele, nas centenas de preces que emitia em meus pensamentos. Era um Deus de necessidades, de sobrevivência, de crença e de respeito.

Mas os dias passaram. Os meses. Os anos. E esse Deus permanecia o mesmo, nada mudava, nada mudou. Os desvalidos continuavam desvalidos. Os opulentos cada vez mais opulentos. A ignorância crassava e ganhava todos os direitos, a sordidez imperava nos Templos, a malícia revestia os doutos, a ignomínia se alastrava naqueles que deveriam proteger, abençoar, acalentar.

Ontem eu caminha com Deus e não percebi o quanto eu era triste, medroso, covarde. Minhas atitudes eram elaboradas para agradá-Lo, eram dirigidas para sustentá-Lo. Eu falava, como todos falam: Que Deus lhe dê em dobro o que desejar, sem perceber como esta frase é covarde, medrosa, pobre. Uma frase admoestadora, impositiva, desejando que as pessoas pensem antes de me desejar mal, pois se não...

Ontem eu amava a frase Deus é amor, sem perceber o quanto ela transformava Deus em um ser antropomórfico, com sentimento pífios e inerentes à sub-raça.

Hoje não mais. Meu Deus sou eu mesmo, quando me transformo em irmão, quando estendo minhas mãos e auxilio, sem a preocupação de que estou ou não ganhando os céus, reservando um espaço no Paraíso. Quando alimento minhas três bases de formação e evolução: Moral, Ética e Amor. Quando não mais dependo de um Deus irascível, tosco, vingativo. Que por inveja e despeito, manda seu mais ilustre representante, para as plagas do inferno, que diga-se de passagem, é sua própria criação. Como acreditar em um ser onisciente, que cria a maldade, a dor, a desgraça eterna? Que privilegia uns em detrimento a outros que não o reconhece como seu Deus? E como aceitar um Deus criado e imposto pelo medo, pela covardia, nascido perfeito sem nunca ter passado pelos passos evolutivos que obriga a suas criaturas a passarem?

Hoje não mais.

Ontem eu não tinha esperanças. Eu apenas me agarrava a elas, para não me perder no mar de lamas e podridão, que foi imposto na humanidade por séculos.

Hoje eu sei o que é a verdadeira esperança. É aquela que nasce em meu ser, criada por mim mesmo, revestida por mim mesmo, alentada e alimentada pela minha glória de ser alguém, que busca por si só, a evolução, o crescimento, pois acredita em uma única e real certeza: De que meu céu, meu paraíso e minha glória, são criações minhas, pela minha própria evolução, quando incorporo em mim, o sustentáculo da base de qualquer ser no Universo: Moral, ética e amor.

Adolfo Turbay
Enviado por Adolfo Turbay em 17/11/2009
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