A Casa da Minha Infância
(Rua Los Angeles, 226)
Estala a chuva na calçada nua e ecoa longe o rugido do trovão.
Depois silencia.
Uma estranha claridade na noite, como se fosse aurora ou entardecer?
Então a chuva míngua escorrida na vidraça.
Deitada, olho para o teto. Estou novamente em casa... Na casa da minha infância.
A cama com a cabeceira cor de rosa, a cadeira estofada, do mesmo tecido ondeado... A penteadeira falsa, disfarçando a máquina, onde minha mãe costurava os meus vestidos de festas.
A colcha de babados em delicada estampa de tons pastel, o violão pendurado na parede.
A cortina rosa esvoaçando... Dançando... Embalando os meus sonhos de menina.
Sonhava com uma caixa de tintas, pincéis, telas, palheta... Sonhava em sair da mesmice daquela cidade pequena...
Vivo tão longe agora, numa cidade grande!
Olho a caixa de tintas, os pincéis, a palheta, as telas,
Olho as perdas, os caminhos tortos,
E tudo que eu mais queria era voltar para a minha casa.
Ilustração: Paula Baggio
Crayon
21x19
(Rua Los Angeles, 226)
Estala a chuva na calçada nua e ecoa longe o rugido do trovão.
Depois silencia.
Uma estranha claridade na noite, como se fosse aurora ou entardecer?
Então a chuva míngua escorrida na vidraça.
Deitada, olho para o teto. Estou novamente em casa... Na casa da minha infância.
A cama com a cabeceira cor de rosa, a cadeira estofada, do mesmo tecido ondeado... A penteadeira falsa, disfarçando a máquina, onde minha mãe costurava os meus vestidos de festas.
A colcha de babados em delicada estampa de tons pastel, o violão pendurado na parede.
A cortina rosa esvoaçando... Dançando... Embalando os meus sonhos de menina.
Sonhava com uma caixa de tintas, pincéis, telas, palheta... Sonhava em sair da mesmice daquela cidade pequena...
Vivo tão longe agora, numa cidade grande!
Olho a caixa de tintas, os pincéis, a palheta, as telas,
Olho as perdas, os caminhos tortos,
E tudo que eu mais queria era voltar para a minha casa.
Ilustração: Paula Baggio
Crayon
21x19