Areias do Tempo
Foi num dia de maré baixa que os tesouros que guardava
vieram se deitar em lugar visível.
Foi num dia de pouco movimento, sem marolas e sem tormentas
que o precioso se fez intenso.
Variedades em tons pastel , desmaiadas em ondas solenes de quietude .
Silenciosa presença que ficou distante e em desuso ,
como são todos os bens preciosos.
Expostos para a admiração , intocáveis. Irretocáveis .
Natureza que mostra mas não se deixa usar.
Foi num dia de extremada calmaria que percebeu que
o sonho sonhado e conseguido seria impossível
de ser vivenciado. E não permaneceu.
Ondas que vêm e vão, batem na areia , mas não a desmancham.
Apenas a mudam de lugar, carregando os tesouros para lá
e para cá, numa dança de atrapalhada locomoção.
Nada poderia ser mudado , mesmo porque as areias
do tempo apenas se deslocam , envolvidas pelas tempestades.
Formam pequenos montes,
molham-se na água salgada dos mares, choram e ninguém vê.
Movem-se ao sabor dos ventos , se refrescam ,alegram-se...
a carregar ou esconder bens preciosos ,
que ocasionalmente ficam expostos,
mas devem lá permanecer.
Tesouros que ficam bem onde estão , pertencem a ninguém e se retirados,
perdem o valor que têm. A sua dimensão.
(2005)