Cinzas
E tudo se vai. Sempre... Nada é mais duradouro que um cigarro aceso, bastam algumas baforadas na cara e tudo vira cinzas.
Sinto sua falta, amigo. Meu caro, incrédulo e imaculado amigo.
Preciso de alguma razão para não deixar de seguir as migalhas soltas ao longo da nossa amizade.
A dor sempre vem, ela sempre estará entre nós. Por quê?
Deixem passar a senhora carregando o bebê desfalecido... Nossa mesa continuará posta. Ele tem sorte de não precisar passar por tudo isso.
Puxe... Segure... Sinta o gosto amargo e quente de mais uma baforada. Ela se vai... Continua se esvaindo, companheiro.
Queria te matar, sentir novamente a certeza mantenedora das agitações infantis e trépidas da época viva em nós.
Giremos, giremos com vontade... O mundo roda ao seu lado, amigo. A engenharia caótica não nos faltará agora.
Não pare ainda. Continue a ver o céu rodopiar sob seus olhos, cabeça e sentidos.
Sinto que vou vomitar!
Abrace-me mãe. Impossível respirar quando não se tem mais pulmão...
Mais um trago, juro que será meu último.
Nada é mais duradouro que um cigarro...
A carteira enfim se esvazia:
E é o fim.