Cinzas

E tudo se vai. Sempre... Nada é mais duradouro que um cigarro aceso, bastam algumas baforadas na cara e tudo vira cinzas.

Sinto sua falta, amigo. Meu caro, incrédulo e imaculado amigo.

Preciso de alguma razão para não deixar de seguir as migalhas soltas ao longo da nossa amizade.

A dor sempre vem, ela sempre estará entre nós. Por quê?

Deixem passar a senhora carregando o bebê desfalecido... Nossa mesa continuará posta. Ele tem sorte de não precisar passar por tudo isso.

Puxe... Segure... Sinta o gosto amargo e quente de mais uma baforada. Ela se vai... Continua se esvaindo, companheiro.

Queria te matar, sentir novamente a certeza mantenedora das agitações infantis e trépidas da época viva em nós.

Giremos, giremos com vontade... O mundo roda ao seu lado, amigo. A engenharia caótica não nos faltará agora.

Não pare ainda. Continue a ver o céu rodopiar sob seus olhos, cabeça e sentidos.

Sinto que vou vomitar!

Abrace-me mãe. Impossível respirar quando não se tem mais pulmão...

Mais um trago, juro que será meu último.

Nada é mais duradouro que um cigarro...

A carteira enfim se esvazia:

E é o fim.

Alexandre Guimarães
Enviado por Alexandre Guimarães em 13/11/2009
Código do texto: T1921497
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