RENDO-ME

Rendo-me às suas investidas

Conspiradores e traidores contumazes

Que não agem segundo o que dizem

E proclamam verdades às alturas dos palanques

Para platéias ignóbias e servis voluntárias.

Rendo-me às suas sardônicas risadas

Prontas em atender às ordens empostadas

Das autoridades que você se vangloria em atender

Até nos mais íntimo prazer desdenhoso dos fracos.

Rendo-me à sua obediência

Sempre em alerta ao primeiro estalar dos dedos

Que lhe apontarão à rua tão logo satisfaça o sultão.

Rendo-me à sua presteza

Demonstrada às vistas desatentas dos reais sinais

Que se mostram quando à ocasião se parece favorável

E se escondem quando a cooperação é o melhor desempenho.

Rendo-me à sua entrega

Pensada e contabilizada

Para colher dividendos tão ínfimos e questionáveis

Que envergonharia ao mais avaro dos avaros.

Rendo-me à mesquinhez

Igualmente torpe e ignóbil

Somente vistas nos que desconhecem

O sentido da palavra amizade.

Rendo-me à rendição

Dos que se esquecem de resistir

E se deixam conduzir por promessas

Baseadas pelo momento presente

E ignoram que condutas se fortalecem

No transcurso da vida.

Rendo-me de espada à mão

Crenço na humanidade

Que se renova e me inspira

E me ensina dia a dia

Que render-me não me faz um fraco

Apenas e tão somente que a luta não compensa

Porque não se amansa cavalo velho.

E o peão que conhece o arreio falso

Desmonta as tralhas da montaria

E parte em busca de novo animal

E se rejuvenesce de sangue novo.

E se alguma lição tiro de tais passagens

Digo que as tive de caboclo não mais presente

E garanto sem um mínimo que seja

Que nada inventei ou copiei

Foram somente as pessoas que cruzei

Porque da vida sabiam mais que os livros.

E aos que se foram

Rendo-me em louvada estima

E agradeço o privilégio que tive

De tão nobres seres em companhia.