Quero dormir como criança

Quero dormir

Como as crianças

Com a barriga para cima e braços soltos, confiantes.

Mostrando o peito que pulsa a vida sem medo,

Largando o peso, indolente, preguiçoso.

O colchão e as cobertas são como nuvens de alfazema

A livrar e aconchegar perfumando

Os tumultos dela, dele, de nós, de vós,

E sonhar como elas sonham

Pulando rios com suas asas emprestadas das borboletas coloridas

E rindo dos respingos de água na pele rosa

E descer devagarinho na relva verde e se esconder magicamente

Dos passos dos lobos famintos

E alçar vôo na ponta mais alta da montanha

E rir porque de lá é tudo quase do seu tamanho

E sentir parte da tela que a vida escultura, mas, sobretudo, salva

Dos passos dos lobos famintos

E quando as asas emprestadas das borboletas encharcarem com a chuva que dói

Das lembranças a excitar os pés e mãos, o corpo, a cabeça...

A águia com seus olhos precisos

Acomoda-me junto a seu corpo

E voa para eu experimentar a extensão dos campos verdejantes e seus segredos

Que curam a dor

E posso suspirar de prazer e paz como o sono da criança.

Que acorda e sorri.

Jeane Lobo