DE NARCISO A PANDORA
DE NARCISO A PANDORA
Quedei-me absorto frente ao espelho
Até a monotonia dar conta de mim.
Então, pus a me examinar com detalhes
Remexendo a minha superficialidade.
No fio de cabelo rebelde dei-lhe volta;
A sobrancelha eriçada, abrandei-a com o dedo molhado;
A rebarba flácida da pele, não teve jeito.
Por fim, pisquei várias vezes, avivando o ar do semblante.
Pensando agora aprofundar no meu ser
Olhei fundo naqueles olhos refletidos
Porém, não consegui ver neles os meus olhos!
Haviam coisas diferentes, além:
Egoísmos
Omissões
Julgamentos
Agressões
Assustado, recuei!
Seriam meus aqueles olhos?
Se porventura sois eu,
Muita estranheza há nisso!
– Caminha, homem, caminha,
joga fora essa cautela!
Ouvi límpida, uma voz externa.
E logo continuaram aparecendo
Outras imagens decepcionantes:
Inclemência
Mentiras
Incredulidade...
Perplexos, estávamos ambos assombrados
Ante a intransigente contabilidade existencial.
Num último olhar furtivo, medroso,
Finalmente vi neles a ESPERANÇA!