Tenho um segredo:
uma espécie de jardim escondido no meio do cinza-urbano.
Um pedaço que só pertence a mim.
Desde a descoberta,
visito o local quando quero esquecer ou lembrar.
Paro o carro no acostamento,
e sozinha subo os degraus daquele enorme escorredor de águas
que aos teus olhos mais parecia uma escada inca.
Costumo ver tudo em volta de um ângulo diferente.
Adiciono texturas, cores, sabores raros.
Como se assim, a vida se tornasse um pouco mais interessante.
Gosto de voar dentro de uma bolha de sabão prestes a estourar...
Sinto o gosto do sorvete antes dividido,
depois o cheiro da erva.
Recordo alguns entardeceres em que fui lambida
pelas antigas mãos daqueles passageiros.
Doei poesias corpóreas para amores instantâneos.
Abri pernas e peito na busca de preencher algo que faltava.
Faltava ou sobrava?
Já não sei direito o que se esconde dentro dos pequenos olhos de mel,
enquanto subo a tua escada.
Nos últimos três degraus, não havia mais lágrimas.
Toda aquela luz que desenhava o infinito abraçava a minha dor.
Posso ver a ventania que varre meus pequeninos problemas pra longe.
Enfim, o centro do mundo.
Pouco importa as cicatrizes agora;
estava além da ponte que corta a cidade.
Lá embaixo, os carros correm a procura de uma felicidade inexistente.
Sei que é inútil continuar seguindo a mesma estrada para lugar nenhum
e quero parar aqui mesmo.
Posso dar um fim nesse constante vazio
e colorir o asfalto de vermelho.
Dissolver-me sobre o concreto...
mas, isso seria bem clichê!
Prefiro imaginar a morte de uma forma mais passional e menos egoísta;
com direito a choros, gritos e beijos de despedida.
Algo bem 'Rodrigueano'!
Abri a bolsa, peguei o chocolate e esperei ele derreter na boca.
Imaginei um jazz sussurrado ao teu ouvido.
Deitei na grama, levei a mão direita até a boca,
e passei o dedo indicador nos lábios.
Devagar, escorreguei a mão sobre a nunca,
desenhei algo sobre os ossinhos dos ombros....
e segui a dança até o peito direito, preenchendo a tua mão de vontade.
Aí,
era cedo demais pra partir.