Um dia atravessado
Ontem cheguei em casa e fui direto pro meu quarto. Como faço, na verdade, todos os dias de minha vida. Faz tempo que não sei o que é sair, caminhar, estar com alguém, amar.
A solidão, companheira de tristeza, é a única que me espera sorridente, quando chego.
Fiquei deitado um bom tempo, esperando as horas passarem e deixei meu pensamento vagar em busca do nada.
Cansado de nada pensar, nada conversar, nada dizer, levantei-me e fui para o meu banho, antes de entregar-me aos braços de Neruite.
Quando a água bateu em minha cabeça e correu sobre meu corpo, senti um frêmito de paz e prazer. De olhos fechados, deixei-me levar pelo pensamento e pela alegria daquele momento. Um sussurro, de uma voz feminina, envolveu-me em uma bela e gostosa sedução.
- Você é meu. Eu sou sua. - era o que o sussurro falava.
Estremeci. Era por demais real. Quem será? Quem se atreveria a vir povoar meu mundo de imaginação e prazer? Que deusa corajosa estaria a me provocar com tão sensual som.
Abri meus olhos e nada vi. Minhas lágrimas misturaram-se com os pingos da água do meu chuveiro. Senti uma dor profunda e triste, dilacerando minha alma e meu pobre e esquecido coração.
Quando será? Quando será que poderei sentir o toque, a maciez, o perfume de tão bela mulher?
Sem nada mais a fazer, comecei a passar em meu corpo o sabonete. Um aroma de frescor e uma fragrância de libidinosidade invadiram meu sonho e minha imaginação. E, mais uma vez, fechei meus olhos e me deixei navegar na sensação de possuir e ser possuído.
Excitei-me. Era bom por demais.
Há muito não sentia tão forte emoção, tão prazeroso momento.
E em pensamento fui vivendo cada beijo, cada toque, cada promessa.
Senti a maciez de sua pele, a delicadeza de suas curvas, a quentura de sua paixão. E com meus lábios, suguei sua vida, seus encantos, sua presença.
Pensei: Muito melhor que um barzinho com amigos, um papo, uma viagem, um passeio, um filme. Até mesmo, muito melhor que uma espreguiçada no sofá. Muito melhor que um sono tranqüilo, e um despertar livre do relógio. Ah! Muito melhor do que qualquer coisa nesta vida.
Pois o prazer encontrado neste elã-sensual, neste prelúdio de amor, foi simplesmente emocional.
Terminei meu banho sem querer terminar. Precisava estar mais com ela. Sentir suas curvas, beijar seus seios, amar seu sexo.
Triste e solitário, envolvido em minha toalha de banho, voltei para meu quarto.
Antes de deitar-me, olhei num relance para a folhinha, pendurada na parede. Um sorriso aflorou meus lábios. Percebi porque eu fora tão feliz naquele maravilhoso banho. Era sexta-feira, o dia mais esperado, de uma bela mulher.