Mesmo depois de uma noite mal dormida (leia-se
ar condicionado pifado) ainda dá pra de muito bom
humor pensar nas tantas coisas boas que existem
no mundo e para as quais de tão corriqueiras que
achamos ser, não damos crédito a Deus por te-las.
Ou damos quando estamos num dia "normal" de
felicidade.
Mundo colorido cheio de tecnologia, avanços esses
que nos permitem hoje juntos romancear a vida e
abrir o coração como faço agora.
.
Só dar uma olhadinha pela janela pra ver quanto
romance existe na natureza, nas gotinhas de chuva,
na brisa morna do vento, na cervejinha gelada dos
finais de semana, os encontros amorosos sem da -
tas marcada, um beijo na boca, amigos alto astral
uma pizza margerita com bastante alho, o dinhei -
rinho no bolso depois de um mês de trabalho, um
abraço com tesão, a libido mexida interiorando de-
sejo. um banho morno tomado junto, depois de sa-
ciada a fome de amor, umas torradinhas com cream
cheese, depois das muitas fantasias, dias de muita
luz .
Agora....pelámordedeus, acabe literalmente comigo
se por ventura eu encontrar gente folgada e conven-
cida.
Dificil aceitar. Porra, isso me-mata.
Acho horrivel bancar cãozinho de pelúcia que basta
você apertar a barriguinha e ele feliz responde
"I love u"" porque eu tenho potencial pra ser amiga
real.
Distribuo à vontade, toda hora, sem hora marcada bons
dias, feliz aniversário, feliz isso, feliz aquilo, mas, por
outro lado me sinto uma serial killer se esqueço e me cobram.
Bem, não quero ser chata e deixar que alguém pense
que tudo isso aqui é um desacordo de ysabella com
ela própria.
Não é. Fazdeconta que estamos num barzinho e enquanto o raciocinio vai indo pelo ralo do razoável,
as garrafas de skoll vão ficando vazias na mesa.
Mas, se sentir que está fora do grupo na mesa, fazmalnão, isso também é paz
YSABELLA
Minha adorada Clarice me inspirou com esse texto.
E de repente aquela dor intolerável no olho esquerdo, este lacrimejando, e o mundo se tornando turvo. E torto: pois fechando um olho, o outro automaticamente se entrefecha. Quatro vezes no decorrer de menos de um ano um objeto estranho agrediu meu olho esquerdo: duas vezes ciscos não identificados, uma vez um grão de areia, outra um cílio. Das quatro vezes tive que procurar um oftalmologista de plantão. Da última vez perguntei àquele que realiza através de cuidar por assim dizer de nossa visão do mundo: por que sempre o olho esquerdo? É simples coincidência?
Ele respondeu que não. Que por mais normal que seja uma vista, um dos olhos vê mais que o outro e por isso é mais sensível. Chamou-o de olho diretor. E este, por ser mais sensível, prende o corpo estranho, não o expulsa.
Quer dizer que o melhor olho é aquele que é a um só tempo mais poderoso e mais frágil, atrai problemas que, longe de serem imaginários, não poderiam ser mais reais que a dor insuportável de um cisco ferindo e arranhando uma das partes mais delicadas do corpo. Fiquei pensativa.
Será que é só com os olhos que isso acontece? Será que a pessoa que mais vê, portanto a mais potente, é a que mais sente e sofre? E a que mais se estraçalha com dores tão reais quanto um cisco no olho. Fiquei pensativa.
Pois, como eu ia dizendo, lembrei-me do Ano-Novo, assim, de repente. [...]
Esse texto está também publicado no meu Diário
no Recanto
ar condicionado pifado) ainda dá pra de muito bom
humor pensar nas tantas coisas boas que existem
no mundo e para as quais de tão corriqueiras que
achamos ser, não damos crédito a Deus por te-las.
Ou damos quando estamos num dia "normal" de
felicidade.
Mundo colorido cheio de tecnologia, avanços esses
que nos permitem hoje juntos romancear a vida e
abrir o coração como faço agora.
.
Só dar uma olhadinha pela janela pra ver quanto
romance existe na natureza, nas gotinhas de chuva,
na brisa morna do vento, na cervejinha gelada dos
finais de semana, os encontros amorosos sem da -
tas marcada, um beijo na boca, amigos alto astral
uma pizza margerita com bastante alho, o dinhei -
rinho no bolso depois de um mês de trabalho, um
abraço com tesão, a libido mexida interiorando de-
sejo. um banho morno tomado junto, depois de sa-
ciada a fome de amor, umas torradinhas com cream
cheese, depois das muitas fantasias, dias de muita
luz .
Agora....pelámordedeus, acabe literalmente comigo
se por ventura eu encontrar gente folgada e conven-
cida.
Dificil aceitar. Porra, isso me-mata.
Acho horrivel bancar cãozinho de pelúcia que basta
você apertar a barriguinha e ele feliz responde
"I love u"" porque eu tenho potencial pra ser amiga
real.
Distribuo à vontade, toda hora, sem hora marcada bons
dias, feliz aniversário, feliz isso, feliz aquilo, mas, por
outro lado me sinto uma serial killer se esqueço e me cobram.
Bem, não quero ser chata e deixar que alguém pense
que tudo isso aqui é um desacordo de ysabella com
ela própria.
Não é. Fazdeconta que estamos num barzinho e enquanto o raciocinio vai indo pelo ralo do razoável,
as garrafas de skoll vão ficando vazias na mesa.
Mas, se sentir que está fora do grupo na mesa, fazmalnão, isso também é paz
YSABELLA
Minha adorada Clarice me inspirou com esse texto.
E de repente aquela dor intolerável no olho esquerdo, este lacrimejando, e o mundo se tornando turvo. E torto: pois fechando um olho, o outro automaticamente se entrefecha. Quatro vezes no decorrer de menos de um ano um objeto estranho agrediu meu olho esquerdo: duas vezes ciscos não identificados, uma vez um grão de areia, outra um cílio. Das quatro vezes tive que procurar um oftalmologista de plantão. Da última vez perguntei àquele que realiza através de cuidar por assim dizer de nossa visão do mundo: por que sempre o olho esquerdo? É simples coincidência?
Ele respondeu que não. Que por mais normal que seja uma vista, um dos olhos vê mais que o outro e por isso é mais sensível. Chamou-o de olho diretor. E este, por ser mais sensível, prende o corpo estranho, não o expulsa.
Quer dizer que o melhor olho é aquele que é a um só tempo mais poderoso e mais frágil, atrai problemas que, longe de serem imaginários, não poderiam ser mais reais que a dor insuportável de um cisco ferindo e arranhando uma das partes mais delicadas do corpo. Fiquei pensativa.
Será que é só com os olhos que isso acontece? Será que a pessoa que mais vê, portanto a mais potente, é a que mais sente e sofre? E a que mais se estraçalha com dores tão reais quanto um cisco no olho. Fiquei pensativa.
Pois, como eu ia dizendo, lembrei-me do Ano-Novo, assim, de repente. [...]
LISPECTOR, Clarice. Apenas um cisco no olho.
Esse texto está também publicado no meu Diário
no Recanto