QUEM MEXEU COM MEU ETERNO?

QUEM MEXEU COM MEU ETERNO?

Quem mexeu com meu "eterno"? Cadê o passageiro do bonde, em que estação deve ter descido?

Amanhã será segunda-feira e eu não consigo perenizar o domingo. Onde fica a demarcação das horas? Onde colocaram o limite entre o tempo do calendário e o de dentro de mim?

Ontem foi janeiro de 1951. Minha mãe já está "pouquinha" e eu robusto não mais sou. Dizem que o tempo se encarregou de enrugar seu rosto, enrijecer algumas partes, amolecer outras, mas onde se escondeu o malvado desse tempo? Em que fresta se enroscou esse vulto que invade as nossas existências, decreta não só a beleza, mas também falências e se esconde inclemente? Perto de nós?

Mamãe está pouquinha por fora, mas imensa por dentro. AMOR poderia ser seu nome e o que lhe consome a qualquer um acometerá, bastando apenas viver um pouco mais. Preço da vida? - Certamente, pois esse preço só gente pode pagar.

QUEM MEXEU COM MEU ETERNO?

A doce ilusão do inverno

a alusão do meu terno

a confusão de ser moderno?

Monteiro Lobato, tenho que fazer um sítio só meu! Não sei se você permite, mas eu quero um "reino do faz-de-conta". Um bloco das Ilusões igual àquele das ruas do meu Recife em dias de carnaval, meio Sítio do Pica Pau Amarelo. Vou conduzir o flabelo mostrando nele os contos da memória, pra ver se eternizo o tempo nas fábricas de tuas histórias.

Seguirei no rito do carnaval em plena luz do dia, em plena condescendência da noite, para que o meu reino se defronte com todos os meus bedéis. Irromper a madrugada, ver o galo cantar, encontrar Madeira do Rosarinho e seguir o tríduo de momo até Catende. Cantar ao som de Batutas no bairro de São José, eu quero ver quem é o Homem da Meia Noite. No afoite dos meus desejos, quero o beijo com sabor de tapioca, quero cheiro, quero ler Garcia Lorca, pra te encontrar na contramão. Ilusão sempre caminha no viés contrário, senão não seria, mas tu ias desembestada, ó mulata assanhada, pelas ladeiras da Sé, enquanto eu e Zabé buscamos esfuziantes, os blocos do amigo Zé. Zé da burra, burra do Adão, só se ver empurrão lá na rua da "dedada" pertinho dos Quatro Cantos. Lavarei meu pranto com perfumes de alecrim, Arlequim não me deixe chorar...

QUEM MEXEU COM MEU ETERNO?

Imagino que quem mexeu foi a ilusão. Mas quem mexeu com ela foi o eterno que se encarregou de iludir. No carnaval, Pierrôs e Colombinas irão se encontrar no bloco das Ilusões. Haverá confetes, serpentinas, lanças-perfumes como nos tempos de outrora. Vou pra rua da Aurora pra ver o bloco passar. Encontrarei os blocos! O das ilusões vai se encontrar com o das Flores e o "Reino do Faz de Conta" vai novamente se esbaldar.

Vou correndo pra Boa Vista, lá vêm Banhistas e neles vou me banhar! Quero lavar meus pecados pra novamente pecar. Pecado limpo e lavado deve ser pecado bom, quero no frevo de bloco Invocação no mesmo tom:

Quero da vida a sentença,

quero fé e quero crença

quero até Alceu Valença

da Ode a Incelença.

QUEM MEXEU COM MEU ETERNO?

QUEM MEXEU

MEXEU COMEU

É TERNO...