O Enterro

As badaladas são méis a fluir

Aquele na praça, reles obcônico

Na bagagem, seu tom irônico

Ultimados fiéis, incapazes de reagir.

Santa procissão, as pessoas marchando

Com véus e tules, disfarçando imperfeições

São as almas pálidas, ali desfilando

Retorcidas e vis, eletrizadas.

Espera lá o pároco

Ele é o regente, mecânicos gestos

Nenhuma ligação a estreitar sinceridade

Ele late, late, late.

Os choros e as velas rezam por protocolo

Ali durinha, a carne fatigada... Rigor mortis

Teus amigos nas alças a acelerar a partida

Na certa, pelo lavor dado à vida.

A homenagem póstuma é a mais insignificante

Não deixa trair nem vingar; é bitola

Falso e pontual, segue o obcônico a tilintar

Dobra a todas as pessoas, incorrigível.

Palmas no contrato, páginas bíblicas

Marmoreadas vozes a bailar sem som

E a procissão caminha na volta, como chegara na ida

(Fora os sais que se perderam)

Martirizadas, as pessoas ainda lembram do enterro.

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 09/07/2006
Reeditado em 14/09/2007
Código do texto: T190526
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