Marajó
Fui buscar em Marajó algum outro motivo pra viver.
Porque havia perdido o restim de esperança que mantinha guardada no fundo do peito meu.
Fui buscar em Marajó o homem que fugisse à regra. Que de tão diferente que fosse, seria deixado de lado por todos os outros.
O homem que trouxesse em si alguns valores cafonas, parentes próximos do amor, primo-irmãos da compaixão.
Porque o peito ainda ardia em brasa de ver perder em si qualquer jóia que restara do ser humano.
E eu gritava em Marajó que banalizaram o homem!
Banalizaram sua música, sua arte, seus projetos de cultura.
E não há mais vestígio de regras ou etiqueta
Ah, mas quebrem as porcelanas!
Não dou a mínima para a etiqueta
Pois eu defendo os portocolos!
Aqueles passados de pai para filho, de avô para neto, bisneto e tatata, me perco no ta, taranetos!
Mancharam a liberdade! E agora só posso escrever quando é tarde
Porque à noite falta luz.
E lá fora, ah, lá fora o bicho homem pega e come;
às vezes entorpece e até vende
o menino pequeno que o chama de pai!
Fui buscar em Marajó,
lá no pé de Macaxera, escrito na asa da Graúna de Alencar
Os Dez Mandamentos, que ainda criança, na boca da mulher soavam bonitos
Mas neste mundo invertido, soaram-me estranhos.
Então mata-me em Marajó!
E enterra-me abraçado às escrituras finas dos galhos da Macaxera
Onde ainda ouço ecoar a esperança em forma de flor.