prosa poemando a poesia
Quando na fotografia sobreposta
revejo no silêncio do espelho
as frinchas rachadas do tempo
murmúrios da infância
e horas em que o colo da noite
embalava a cantiga submersa
da língua dentro da água na boca,
êmbolo embrionário de um caos
cais de pólvora
nascendo em si a si mesmo
sequer havia luz ou voz
uma fosforescência de som
ruminâncias de formas
que não se decifra nem se esfinge
rosas alquebradas
lençóis desdobrados
os olhos não souberam o não
o corpo doendo a vida quando crescia
as pontadas no peito
no silencioso vazio solitário do osso
no leito do lento pensamento
onde o sangue corre primitiva coisa-casa
algo em mim dizia que a poesia
vem tangida nos nervos.