O lugar onde mora o meu coração

Soprado pelo Pelo Vento

Pensei em dar um tempo

Em função de uma viagem,

Porém, ela foi postergada.

Então volto sem lamento

Para uma nova triagem

Desta vida engraçada...

O lugar onde mora o meu coração

Há muito por aqui apareci

Olhando montanhas, sanhaços,

Pintassilgos, beija-flores

Beijando bem-te-vis,

Despencando de penhascos

Regorjeando louvores.

A pradaria murmurando

O vergel-lilás de suas flores.

Era o lugar que sonhava

Para os meus amores.

Então nada mais me faltava...

O meu alvorecer era em cores.

A chuva me iluminava

O sol me instalava

Destilando deliciosos licores.

No conforto informal.

No desejo de mais um mortal...

No crepuscular das tardes de magia

Embriagado no tom do doirado

Som a acariciar meus ouvidos,

Qual a todos os lados...

Tudo e a todos tingia.

Nesse mel de melaço

No mais puro regaço

Que no fundo regava,

E me fundia em alegria.

Foram belos os meus dias

Os quais minha mente arejava.

À rede me embalava em noites calmas,

Meus pensamentos voavam em nuvens alvas.

O meu espírito se projetava além de coisas humanas

Nas longas tardes de frescor-rupestre nos fins de semana.

Privilegiado; o meu lar construi

Dependurado no topo do monte,

Mas alicerçado com cascalho dali.

Belos e floridos jardins,

Melífluo odor de jasmim.

Em cima do vale, visão encantada,

Minha família, presença marcada.

Parece ter sido ontem...

O tempo passou ligeiro.

Neste comboio fui passageiro.

Meus filhos se casaram

Meus netos se foram...

A minha companheira

De tantos janeiros

A partir foi à derradeira,

Mas partiu pra valer,

Enfim, o meu coração

Partiu por inteiro.

Restou-me a oração,

Pássaros e a canção

Do meu velho travesseiro,

Confessor e confessionário

Neste esplêndido cenário

Passo o tempo a escrever

Com alegria e prazer.

Não sou hipócrita

Em meus apócrifos...

E não quero me enganar,

Aprendi a ver a vida

Em sua plenitude.

Encaneci com saúde.

Não posso reclamar.

Partida é partida...

A existência é efêmera

Chegamos-voltando

À frente de câmeras

Registrando os relatos

De fato; relatando os fatos.

Alcovitamos em nossas câmaras.

Regurgitamos desagravos

Ao nosso Criador e Pai.

Melhor nos é juntar os favos

Da gloriosa e eterna Paz.

Caro irmão-leitor

Pense como for

Mas por favor

Não tenha pudor

Dessa falsa dor

Com pavor.

É a realidade da vida.

Flor em botão

Qual murcha

Dando-nos o seu tom

Chamando-nos à atenção.

Qual à bucha,

Com água e sabão.

No banho é algo estranho,

Verdadeiro estrebucho

No antigo corpo de um bruxo,

Às vezes velho-tacanho

Aos olhos de estranho.

Pode ser, mas não é

Se ele sabe o que a vida é!

Pois, fez-se amigo de tudo

E até da boa solidão.

Na realidade é sortudo,

Meu caro-querido irmão.

A solidão pode ser o desespero ou o tempero

De se encontrar com o Eu por inteiro.

“As aparências enganam”

A solidão pode ser uma ótima companheira.

Essa amiga vem para burilar a nossa alma

Dando-nos a condição de vencermos a nós mesmos,

Já que o nosso maior inimigo está no nosso interior.

Na realidade o meu coração mora nos universos dos universos juntamente com o seu...

jbcampos
Enviado por jbcampos em 04/11/2009
Reeditado em 04/11/2009
Código do texto: T1904648
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