A Flama.
Eu tenho direito à vida
Eu tenho direito à morte
para morrer não pedi,
para viver tive sorte.
Eu nasci de triste acaso
de uma simples paixão
de corpos que se atraíram
para uma vulgar combustão.
De uma célula-centelha
de um orgasmo em ardor
para um nada ser a chama
de uma flama de dor.
Posso ir aonde for
sempre custo ter razão
para ferir minha alma
com a navalha do não.
Se me negar a viver
estou certo que irão
acusar-me de fraco
de covarde e de cão.
Mas a vida é um direito
como a morte é também
sendo eu ser sem destino
nessa estrada não vou bem.
A fugir dessa desordem
que é meu livre escolher
pouco desejei a morte
nunca pedi para nascer.