BANCO VAZIO
O sol me alimenta enquanto guardo teu lugar no banco vazio da praça. Esqueci de dizer que o tempo rasga as nossas verdades porque expõe o que tentamos mostrar como mentira. Somos escravos das nossas vontades, sejam boas ou más, porque inventamos desculpas para realizá-las, mesmo a custa da nossa própria integridade. O banco vazio me faz pensar nas ruas lotadas que evitei em nome de amores discutíveis, o tempo, senhor da razão, não me poupou essa dor de estrela solitária, que brilha uma luz que nada ilumina. O banco permite-me um descanso prolongado, espaçoso e vadio, porque ignora minhas ilusões colocando-me como alguém que teima em ser vítima de si mesmo. O sol me alimenta porque sabe que o sonho tem a força de levantar um horizonte que a noite escondeu para ser mais bem celebrado. Volto ao passado para enxergar este discurso repetitivo e vejo no olhar descrente dos ávidos na paixão alheia, a confusão gerada entre a bela emoção da poesia escrita e o perfume esquisito do suor de quem escreve no calor de um quarto sem janela. Somos todos autores e atores do teatro da vida, somos criador e criatura dos anjos e dos monstros que ora nos guarda, ora nos jura. Somos mais que a metade, porém, jamais seremos inteiros. Observe bem o banco vazio, dói uma declaração de amor?
(foto de autoria da poeta Sônia Ferraz , tirada no Parque Trianon em S Paulo dia 01/11/09)