HISTÓRIAS INTERROMPIDAS
Um sol impiedoso queimou o dia e ao fim da tarde,sem fazer alarde,trouxe acanhada,uma brisa fresca pra sua noitada.
Levo ao campo santo,flores de novembro,enfeito caminhos de quem sempre lembro.
Quietas ruelas, estreitas avenidas,no conglomerado "Arquivo de vidas".Impera por aqui a lei do silêncio .Uma tênue claridade arrasta do céu algumas côres de saudade.
Tantas histórias abruptamente interrompidas, negadas o direito de escolha para um desfecho,ainda que fosse tão somente uma frase de efeito.
Quantos amigos que a morte os surpreendera.
Quantas partidas à que se negou o direito de sequer um aceno de despedida.
Aos poucos,vamos perdendo nossas referências.
Por vezes,falta-nos o chão.De que importa a idade? Se dela independe a nossa carência de chamego,da ternura vaga de uma mão que nos afaga?
Arrasto o fardo de uma carcaça triste,divagando pelo conglomerado dos mortos.
Fotos,datas,frases reflexivas...
Odores de parafina derretida,lírios e crisântemos incensam os ares.
Mãos invisíveis apertam-me a garganta.
Em silêncio,cruzo o portão e vou ganhando a rua.
Brilha um resto de sol no "condomínio dos mortos".