[O Viajante]
[... eu cumpro o que aprendo
com quem sabe muito
mais que eu:
procuro fazer poesia,
e não fabricar Razão!]
... escurão da noite sem fim,
luzes frouxas na madrugada,
e o meu sangue pára;
a vista some num último flash,
e de repente, o motor silencia,
vejo o fim - pereço, morro...
fogaréu insano: tem de ser assim!
...e este trem, que nem existe mais,
viaja assim, louco, perdido
nas paisagens noturnas
onde vagueia a minha mente,
a se torturar inutilmente -
matei todos os deuses
que me atavam - estou livre!
Meu espanto percorre um
campo de antigas batalhas
iluminado pelas luzes de astros
mortos, que viajam pelo espaço
desde sempre, sem jamais
chegar ao termo de sua
fantástica errância!
É desta forma que eu constato
que não sei quem ou o quê sou,
jamais coincido comigo mesmo;
tenho apenas piedade de quem
pergunta qual o sentido da vida!
Sei que o céu é escuro,
viajo num espaço infinito,
e parei aqui, sem razão,
por um tempo, um breve tempo!
Viajante, ou nem isto?
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[Penas do Desterro, 31 de outubro de 2009]