VIRGINDADE
Sangra a carne, maldito! Esgarça a pele, fere e rasga a terra , marca, deixa a chuva encharcar. Leva os sonhos de vestido branco para bem longe, enquanto durar o encantamento.
Azuis, amarelas e verdes; serpentinas emaranhadas e confusas.
Abre a caixa, retira a inocência. Morde na dor, derrama a semente.
O café da manhã está frio: pão, mel, uvas, leite e maçã.
Abre o véu, bota a mão perto.
Enxada se aproveita, sulca no abandono do prazer! Anda logo!
Tráfego intenso, mão dupla, é proibido!
Rola, caleidoscópio!
Carruagens, princesas, decotes; vestidos brocados e longos, bailando.
Loucura: sianinhas presas na testa, ponta de cabo torcido.
A concha, no lençol azul, está pulsando; as bordas úmidas se abrem macias, com cheiro e cor de romã.
Vê as pernas abertas deixadas para a semeadura ?
É o momento da delicadeza.
Abandona, tempo!
Olha a crista de galo, os olhos negros.
O caderno de caligrafia, manchado de gordura, o chinelo da mãe, o lápis sem ponta, a ponta vermelha.
O campo está fértil, trabalho de enxada, rostos vincados, cabeças protegidas do sol.
A terra é rasgada... Começa a semeadura.
Sorrisos suados, a concha se modificou entre abraços e carícias. Ao longe o canto religioso das mulheres do campo.
Ela sai do quarto.
Não é mais moça.
É mulher.
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OBS.: Este texto está registrado na Biblioteca Nacional.