VIRGINDADE

Sangra a carne, maldito! Esgarça a pele, fere e rasga a terra , marca, deixa a chuva encharcar. Leva os sonhos de vestido branco para bem longe, enquanto durar o encantamento.

Azuis, amarelas e verdes; serpentinas emaranhadas e confusas.

Abre a caixa, retira a inocência. Morde na dor, derrama a semente.

O café da manhã está frio: pão, mel, uvas, leite e maçã.

Abre o véu, bota a mão perto.

Enxada se aproveita, sulca no abandono do prazer! Anda logo!

Tráfego intenso, mão dupla, é proibido!

Rola, caleidoscópio!

Carruagens, princesas, decotes; vestidos brocados e longos, bailando.

Loucura: sianinhas presas na testa, ponta de cabo torcido.

A concha, no lençol azul, está pulsando; as bordas úmidas se abrem macias, com cheiro e cor de romã.

Vê as pernas abertas deixadas para a semeadura ?

É o momento da delicadeza.

Abandona, tempo!

Olha a crista de galo, os olhos negros.

O caderno de caligrafia, manchado de gordura, o chinelo da mãe, o lápis sem ponta, a ponta vermelha.

O campo está fértil, trabalho de enxada, rostos vincados, cabeças protegidas do sol.

A terra é rasgada... Começa a semeadura.

Sorrisos suados, a concha se modificou entre abraços e carícias. Ao longe o canto religioso das mulheres do campo.

Ela sai do quarto.

Não é mais moça.

É mulher.

-----------------------------------------------------------

OBS.: Este texto está registrado na Biblioteca Nacional.

Elysio Lugarinho Netto
Enviado por Elysio Lugarinho Netto em 08/07/2006
Reeditado em 20/04/2010
Código do texto: T189668
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.