QUE ME ENGANO
Recolhidas as migalhas do chão
Pisado pelas pessoas que andam às pressas
Leva à boca não restos nem migalhas
Leva-as como o alimento que lhe falta à vida.
Assim se reconhecem os que habitam as cidades
Verdadeiras selvas de pedra que não perdoa os indignos
E lhes condenam à sorte policialesca dos transeuntes
Que os vêem como estorvos e viram as caras.
Qual ou quais, meus nobres cidadãos da metrópole
Antítese das coisas civilizadas e defendidas
Nos rádios ou televisões aos domingos faustosos
E se negam o olhar ao da rua abandonado.
Então o que podem esses seres largados
E com desconfiança e mãos às narinas olhados
Que não os vêem como seres humanos que são
E tratam com pompas e caprichos exagerados seus estimados animais.
Assim se andam hoje aos olhos vistos
Às ruas crianças e famílias inteiras
Pedintes ou revirando latas
E nos partidos, câmaras e templos vistos
Hipócritas defensores do amor ao próximo.
E o discurso feito e difundido
Votos e colaborações garantirão
Porque na terra é no parlamento que se governa
E nas alturas se fará a verdadeira justiça.
E queiram meus enganos eu ter
E que amanhã
Ao abrir a janela não veja
Às ruas cenas já descritas
E as migalhas só aos pombos atiradas
Numa praça habitada por todos em sorriso.
Que assim seja....