[Vingança]
Morro na paisagem,
viro estrume à-toa,
resseco ao sol.
Lá no alto, o gavião
esgoela gritos de ironia;
ele tem asas, eu não;
ele enxerga longe,
eu sou quase cego!
Além das mãos vazias,
só tenho cérebro pensante
que, numa hora dessas,
hora de procurar estrelas
e não achar nenhuma,
não me serve pra nada,
serve pra me ferir ainda mais.
Também,
pra que é que eu fui
ostentar coragem besta
e derrubar o ninho do gavião?!
o meu rio de vida é doido,
mas será que ainda vai
fazer remanso para alguém?
E tenho esse tempo?
Desta vida,
sei nada não;
gavião sabe
mais que eu!
[Penas do Desterro, 26 de outubro de 2009]