NA RODOVIÁRIA, A QUEM INTERESSAR POSSA
Julgo morto todo homem forte
Serão os ETs grandiosos ou feios?
Ora, amigo, não questione metafísica
Disse-me o anarquista Bakunin.
Julgo feliz a mulher mãe e filha
Se a felicidade é abstrata e pessoal
O que será seu substrato, um átomo?
Julgo “mega” o ideal pessoal
E único do ancião que luta
Para morrer em vida seus dias indo.
Julgo os poetas meros apreciadores
Das ninfetas do Tejo que inunda
Seus mais íntimos desejos em prosa revelados.
Ora, Fausto, não seja eloqüente!
Seja objetivo a ponto de abster-se
E de pena da raça humana
Compactua com Mefistófeles
E Goethe se torna imortal
E os labirintos do Homem às caras estão.
Condeno cada atitude individualista da coletividade
E busco nas memórias o que quis esquecer
E sonho de olhos abertos e tenho pesadelos.
Será o antropólogo um cientista?
Ou será ele mesmo o primitivo que estuda
E se civiliza na ignorância da aparência idolatrada.
Não caberá no oceano
Uma gota de lágrima
Sem que seja por um bom motivo.
Disse-me Camões que Amor é fogo
Retruquei ao sábio português
Que o amor é fogo!
E depois nos abraçamos da forma mais poética
E fizemos versos sobre a amizade.
E ao final de calorosas companhias
Nada pedi porque já muito ganhara
E sobre o caderno a caneta imóvel ficou
E sentei para minha partida.
Março/1991