Abraço poético

Naquele dia eu voltei pra casa pisando em nuvens, não ficara um detalhe, um senão que tivesse atrapalhado o brilho das horas vividas. Junto ao meu coração palpitante de feliz vinha abraçado o objeto do desejo, carregado com carinho para não ferí-lo.

Em casa ele foi cuidosamente colocado em lugar onde todos pudessem vê-lo e

até folhearem; sentiria-me mais vaidosa quando os olhos passassem pela dedicatória.

Era preciso preparo para se sentar e começar a beber a magia ali contida, assim quando os sons se calavam eu o buscava; passava minhas mãos com delicadeza em cada detalhe para sentí-lo completamente, fiz isso algumas vezes devagar, com medo de que ele me rejeitasse.

Acarinhei, cheirei e o abracei como quem abraça um amor querido para demonstrar o quanto eu o desejava nesse momento. Foi nesse dia, depois de namorá-lo e esperar o silêncio que o abri e no meio da minha solidão mergulhei inteira nos versos que murmuravam baixinho.

A medida que eu lia, as expressões do meu rosto iam se modificando, eu me sentia a Alice no país das maravilhas. E fui marcando com uma orelhinha todas as poesias que mais gostava para voltar a ler, ou para encaminhar aos que não tinham o prazer da sua deliciosa companhia, fechei-o para sonhar um pouco depois de ler: Realidade; me dei conta que tinha feito um monte de orelhas no meu objeto de prazer!

Sabe quando a gente come um doce gostoso que a gente não quer que termine? Pois estou eu assim com o meu livro: Põe-te de pé, poeta! Não quero que ele acabe então estou mastigando os poemas devagarinho, como a provar um a um e reter na boca o gosto de cada verso.

Pode até ser, como disse minha amiga poeta, que eu já tenha-os lido todos, de alguns eu sei que tenho lembrança como: Meus trovões ( é lindo) Reservado (que gerou uma porção de homônimos, numa intertextualidade maravilhosa) Bóias-Frias, Bifurcação entre outros, mas ter nas mãos um livro todinho reunindo emoções, sentimentos acondicionados com carinho é uma sensação única.

Como disse a Lu, nossa amizade está aí pelos 10 anos, virtualmente, nos vimos duas vezes, uma na Bienal e outra agora na sua palestra e é como se tomássemos cafezinho juntas todos os dias.

Ainda extasiada pela leitura da qual me ocupei essa manhã, vou deixar com vocês um poema desse livro, e que eu gostaria de ter escrito:

Enganando-me

Lucelena Maia

Quantos braços me abraçaram,

Em quantos braços me joguei.

Fui revolta, não importa,

Como consequência, viciei.

Quantas bocas me beijaram,

Quantas bocas já beijei.

Foi despeito, não importa,

O resultado é que gostei.

Quantos homens me despiram,

Quantas vezes me entreguei.

Foi obsceno, não importa,

Ao destino, me abracei.

Quantos anos se passaram,

Desde a primeira cama em que deitei.

De todos os homens que me amaram,

Foste o único que eu amei.

Quanta humilhação. Tu não me amavas.

Fui objeto de aposta e de prazer...

Embriagada de ódio, tornei-me ousada,

Deite-me com todos e fiz saber.

Ali reunidos no meu cantinho, estão : Uma sujeita esquisita, Girassóis ao meio dia ( Cissa de Oliveira) Fatos reais da vida em prosa e verso (Faiçal I. Tannús)

Entretempo (Rosana Chrispim) Pretextos ( Rosa Pena) Fernando Pessoa, castro Alves e Põe-te de pé, poeta! (Lucelena Maia) entre outros tantos que ficam sempre à mão para eu bebericar entre uma refeição e outra.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 20/10/2009
Código do texto: T1877703
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