“Mar maior que a terra, mar do primeiro amor,  mar dos pescadores maratimbas, mar das cantigas do catambá, mar das festas, mar  terrível daquela morte que nos assustou, mar das tempestades de repente, mar do alto e mar da praia, mar de pedra e mar do mangue...”              MAR-Rubem  Braga


     Se bem me lembro, o mar foi minha primeira  paixão adolescente. Paixão mesmo, daquelas de suspirar, piscar os olhos de puro deslumbre, de puro encanto. Na minha vida de menina da roça,  olhar o mar nos livros e sonhar jamais chegou perto da emoção de ficar diante dele, pela primeira vez.
     Amei perdidamente aquela imensidão de um azul inacreditável ! Rodopiei, saltei suas cadenciadas marolas, lambi os dedos,  provando seu gosto e, finalmente, mergulhei ! E assim, eu bicho do mato, me fiz bicho do mar...e fiz dele confidente, amigo, parceiro, metáfora e cenário de meus desejos mais secretos.
     Amo desde então esse mar que me inspira, me acalma, me ensina, me encanta e me espanta...Como não amar quem, ao meu olhar, me promete tanta alegria?
     Como não amar quem acende o brilho dos meus olhos, quem conhece todos os meus desejos?
     Como não amar quem me tem por inteiro, tão intenso, tão cúmplice, tantas vezes personagem das minhas fantasias?
    Como não amar quem acolhe meus delírios no mergulho da vida?  Como não amar quem, mesmo quando estou longe, habita e derrama poesia em  meu sonhos?
     Sim, amo o mar que enfeita o meu cotidiano e, até em sonhos, me mantem juntinho de tudo que amo, de tudo que me faz feliz.

     

Brasília, 18 de outubro de 2009, relendo Rubem Braga  num domingo, bem distante do mar ...