À FLÁVIA

À FLÁVIA

Mas é claro que eu te amo. E amor não basta. É preciso harmonia no pensamento, simetria na forma, paridade no ideal, equilíbrio na corda bamba, um meio de vida, meio pra viver no meio: vida ao meio.

Mas é claro que eu morro de saudades. E sempre renaço depois, sempre dou um jeito de fugir, sempre apareço no último minuto e desapreço logo em seguida, por conta dos contos que não tenho pra apagar as contas, por contos e cantos que não faço pra pagar seus encantos.

Mas é claro que vou te ver. E antes terás que me esquecer, terás que esquecer o que já viste em mim, o que já vestiste em mim, terás que esquecer o que já fui em ti, o que já dei de mim e o que te roubei em você. Terás que rever.

Mas é claro que vou-me embora. Como sempre fui, como sempre vais, como sempre iremos. Embora não queiramos, embora não pretendamos, embora não sintamos, embora não façamos, embora não perdamos, embora não amanheçamos, embora não anoiteçamos, embora não prevejamos, vamos sempre embora.

Mas é claro!