REFLEXÃO

Quando tudo parecia perdido

Como num labirinto concedido só aos existencialistas

Vi, lá ao fundo, a possibilidade da retomada.

E possuído da crença encontrada só nos esperançosos

Crenços que cada dia trás outro e novas luzes

Não desistia da certeza que não existe verdade absoluta.

Quando tudo parecia morto

E o fim às caras turvava chances de um novo de vir

Nada dizia e calava-me em pensamentos íntimos e não compartilhados

E no meio da multidão atarefada e comprometida com o sustento parco

Um choro renascendo dispunha novas alegrias.

Quando tudo parecia opaco

E o embaçado do vidro do carro

Ofuscava o que à frente se veria à luz do dia

Nada se pode e nada se negou o que não se pediu

E a janela aberta após noite tempestuosa

O brilho do Sol aqueceu o dia que se esperava nublado.

Quando tudo parecia sem sentido

Li, num livro já esquecido no armário, meu poema favorito

Quando tudo parecia.....

Não pude, ainda que tentasse esquecer, virar os olhos

E, ainda que não tentasse, também não conseguiria lembrar

O quadro pintado não aceitava retoques

E a galeria da vida que não cobra ingresso e está a olhos vistos

Exibia os outros em que me reconheço.

E eu, negando-me frente ao espelho, era só imagem refletida

Via no outro “eu” aquilo que gostaria de ter sido

E o sucesso tão propagado e enaltecido

Não considera aquele que chega em segundo lugar

E infelizes se tornam os que se guiam pelos projetos alheios.

Quando tudo parecia esquecido....

Quando parecia querer ser lembrado

Quando tudo parecia parado no tempo

Nada pude, nada quis, nada desejei e nada tentei

Somente me permiti contemplar o horizonte

E Kafka surge pelas paredes e sinto vergonha.

E o espelho me olha fixamente

Calado e imóvel fico e sem o que dizer

Recorro ao papel e registro desconexas palavras

Entregues ao veredicto dos que delas serão cúmplices.

silvio lima
Enviado por silvio lima em 18/10/2009
Reeditado em 19/10/2009
Código do texto: T1872710
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