NOTURNO
E o mar espumou seu canto de guerra... O dia fez-se noite e a escuridão dominou o Universo. O manto escuro cobriu as nuvens, enlaçou-se a palmeira mais alta, percorreu os muros solitários, chegou ao chão e escondeu a Terra.
O som monótono e estridente de uma cachoeira faz eco negro ao estribilho do mar... Nem mesmo a nuvem d'água, cartão de visitas de uma cascata, se avista nas trevas. Nem mesmo a garça majestosa na sua penugem alva, consegue atravessar o negror profundo e se fazer notada. E o vento, se soprasse, seria apenas um sibilar longínquo e apagado, qual chocalho de serpente enraivecida, pois o borbulhar das ondas tudo anula. Até a coruja solitária abafou seu piar soturno e se escondeu, amedrontada, no velho celeiro abandonado.
Perderam-se as montanhas, diluiram-se os arranha-céus. A linha do horizonte não existe nessa paisagem negra. O céu e a terra fundiram-se na noite escura. Nada se avista.
Talvez a lua cansada tirasse uma noite de folga... Talvez as estrelas se perdessem em sua rota giratória... Ou foram as nuvens revoltadas que interceptaram os raios do sol?