TUA AUSÊNCIA
Nessa tarde, a chuva fina acentua mais a tua ausência, fazendo
com que eu me envolva nas teias da melancolia.
Olho pela vidraça, na ânsia de te ver chegar procurando abri -
go, mas vejo apenas a rua deserta, triste.
Ouço um telefone que não é o meu tocar e alguém no apartamento
ao lado dizer um "Oi meu amor" que me soa como tortura.
Abro a porta, o corredor está vazio, às fluorescentes.
Volto, penso em te ligar, mas não posso, nosso amor não é pro-
ibido, já que não se proíbe um sentimento, mas é secreto por mo-
tivos legais.
O silêncio da sala é quebrado sómente pelo crepitar da lenha
na lareira, que acendi temperando em vão um clima de aconchego.
A noite cai, e o neon dos letreiros, baila na vidraça tecendo
formas vagas de rostos, todos teus.
As horas avançam e me distanciam da esperança do teu olhar, do
cheiro do teu corpo, do teu beijo...do teu gozo.
Na mesa de canto, está o vinho com o qual brindaríamos nosso
prazer, mas agora será o derradeiro antídoto da solidão.
Abro-o, sirvo-me,brindo tua ausência,me embriago e durmo abra-
çado na saudade.