Apenas Vida
O céu estava intenso de brilho...
Brilho dos olhos seus que nunca deixarão de existir. Sempre foi assim e continuirá. Os raios de sol esquentavam as lembranças adormecidas pelo tempo, este incansável devorador de memórias. Pairavam sobre nossas auras o sentimento do inexplicável e do absoluto. Estávamos ou não a reviver nossos melhores momentos?
Ou será que tudo isso não passava de querença? As melhores respostas eram nossas experiências. Vivêramos, sim, e da forma mais possível e plausível que conhecíamos. Era o momento do encontro, da descoberta do incerto, da beleza da plenitude e da pureza...
O vento sopra agora nossos cabelos aspergindo os sonhos que outrora sonhávamos. Vezes juntos, vezes só. Pois de solidão nossa vida também foi moldada. A solidão que jurávamos não mais viver...que prometíamos não mais pertencer.
Criamos o indescritível e o inenerrável dos sentimentos. O desafio maior era o cotidiano, esse dia a dia salpicado de aventuras que teimavam em conduzir nossos atos. Regiam nossas ações com maestria e desenvoltura. A mesma com que fazíamos as loucuras de nossa época.
Caminhávamos entre o perpétuo e o pretendido, entre o possível e o coerente. Na gangorra, a oscilar, porque esta era a nossa resposta. O nada pronto, o nada acabado e o tudo concreto e permitido. Nos permítíamos a vida, quimera de toda a essência.
Queríamos o vinho, a música, a mística e o amor. Caminhávamos lado a lado por pura competência. Meu era seu testemunho e sua era a minha referência. Do chão que pisávamos brotaram flores e espinhos. Das flores sugávamos a ternura e a bondade e dos espinhos...dos espinhos sua dor.
Fazia-se um chão acolhedor de nossa intensidade e do nosso querer. Pranteávamos o bem querer e a alegria tanto quanto a dor e a frieza. Regávamos este mesmo chão com a fidelidade de nossos mais reais sentimentos. Não deixávamos que pequeninos detalhes passassem sem a tradução merecida.
Vida plena de pequenas grandes coisas. E o quanto amávamos nosso amor juvenil. Sinceras doses de crescimento e evolução nos moldar como gente. Molde consistente e mantenedor de puro êxtase.
Seguíamos a nos abrigar em todas as situações: eu, seu sol e sua sombra, você minha lua e minha sombra. Abrigávamos também os amigos fiéis que nos olhavam com profunda inquietação, que nos acolhiam isentos de julgamentos, porque é assim a razão da amizade.
Prezávamos nossos cúmplices momentos sem expectadores, mas sofríamos quando mensurávamos a ausência deles a nossa distância. Vivêramos para que sempre pudéssemos resgatar a nós mesmos em qualquer tempo e lugar.
Minha constante visão crítica aponta esta certeza. Sua sempre viva intuição a me ponderar e temperar o espírito também. Porém, urgente se faz o momento de partir para a incomensurável desconhecida espera.
Espera de ver você de novo para continuarmos vivendo o que sempre nos aguardou... Um dia de sol assim... eu em você e você em mim.