Jardim do Éden
As rosas de inverno nunca perecem destarte como a ternura derramando-se de teu olhar infinito e celeste, quase campestre eu diria. Profunda e sinceramente selvagem, a cor de tua pele emana vida e antecipa o desabrochar das flores azuis no meu jardim do Éden. Teus segredos eu guardo a sete chaves dentro do cerne que palpita ao som das horas angelicais. E como dói saber que você é quase como irmão. Na verdade você é um irmão das estrelas do meu empírico céu. Não obstante e de forma que não sei explicar ao mergulhar dentro de tuas gemas acesas na presença do sol e da lua eu me encontro dentro de mim mesma e pulso em êxtase quando furtas os meus sonhos de menina. Quem me salvará dos desertos candentes das quimeras de minha alma?
Certamente a tua presença e as asas largas de um anjo louco atravessando a ampla avenida da cidade vazia em uma noite negra salvar-me-iam de minhas divagações profanas, ao mesmo instante, poéticas como a metamorfose das borboletas em plena estação do amor. Tuas confidências escarlates e avassaladoras libertam-me do caos de meu ser em busca de um pequeno milagre pungente no teu olhar imerso em mistério nos umbrais de minhas noites infernais. E como se não bastasse simplesmente o bem-querer busco decifrar os versos profundos presentes nas entrelinhas dos teus retratos ancestrais sobre a mesa do meu quarto. Percebo um cenário de arcanos e nada além de teu orbe onde há uma porta ante o interstício de uma estrada que leva há algum lugar do passado.
E quanto ao empíreo? O verdadeiro céu a que me refiro quando os teus olhos invadem os meus. Não há definição. Certas pessoas são como anjos e vêm para nos curar de nossas rebeldias do ligame secreto além dos sussurros e almas unidas feito insígnia. Tu és um anjo disfarçado em um menino e o teu coração é genuíno. Por que em vão procuras um guarda-sol para libertar-te de ti mesmo? O que te oprime meu irmão? Os ossos do ofício? O caminho árduo sinalizando as escadas que levarão ao céu? Sim, porque depois de uma grande tempestade nasce o arco-íris e os raios de sol lavam a alma em prantos de todos os seres em busca de si mesmos. Não há tempo para lamúrias meu irmão. Somente há atmosfera para sorrir e celebrar a vida em cada despertar das lágrimas através das rosas ao amanhecer.
Sinta-te absoluto e livre ante as estrelas. Uníssono como o orvalho das alvoradas pulsantes que brotam em cânticos e luz. Transforme-te. Vibre com o circuito da música em tudo o que há. Perceba as canções mais antigas do universo. Ame-te e, sobretudo aprecie as flores da primavera em cada esquina do amor. Meu irmão! A vida é uma só. Vá além dos limites. Sejas tu definitivamente. De corpo e alma busque o desejo da perfeição e supra o fulgor de tua própria criação. Crie. Recria-te. Estenda os teus laços e abraços. Construa o teu próprio Jardim do Éden nesta terra. Cultive novas amizades. Enlace o destino que só é teu. Respire e sonhe. Mude o que há para mudar. Não vacile e acaso tropeçar e cair, levanta-te. Eu prometo estar por perto para lhe estender a minha mão amiga e de irmã quando precisar. Conte comigo para sempre.
O bálsamo das rosas angélicas é para poucos; encontra-se disponível aos simples de coração que sabem enxergar as matizes e nuances das pulsações presentes nas pétalas do sopro divino. Observe. Sou a delicada ternura a sussurrar reversos em teus ouvidos. Sou a beleza das rosas de inverno desabrochando em círculos no teu Jardim do Éden. Sou o âmago a quem podes confiar as tuas claves de menino. Sou a música do teu crepúsculo de cada dia. Adjacente à inocência, sou a irmã do destino de teu contemplar sereno ao atravessar as horas sem cessar. Sinta-te confiante. Por alguns instantes cerre os olhos e perceba-te precisamente como veio ao mundo, despido de tudo o que te oprime e sufoca. Sinta-te eternamente jovem. Semeie canções em cada olhar que encontrar o teu e procure galgar na tua própria luz. Infinitamente, como um caçador de estrelas.
Para T.R.