Ela gosta de caju.

Ela gosta de caju, e eu de uva

Que sorte tem por não ter que dividir

Comigo sua porção, a sua vida.

A fome não espera para saciar-se

Eu espero sempre que o dia futuro

Traga-me um prato feito, sem gordura

Sem de disfarce... A coisa mais bela,

Para meus olhos anelarem, seria a sua mão

Estendida, a me oferecer comida...

Mas os dias são escassos... E eu ando,

Ando descalço, pisando minha própria ferida.

Não há companhia para quem não sabe repartir.

Escolhi viver um dia para renascer numa eternidade

Escolhi a falta, para entender e dominar a saudade.

Pena que ela ainda gosta de caju e eu de uva.