[O Poder da Merda]
[Acontecido lá no Planalto Central do Brasil]
- Acertou, acertou!
Voando do fundo do quintal,
feito uma escura bala de canhão,
e vindo cair bem no meio
da roda de desocupados,
garrados numa discussão "de política"...
O que é... ara, o que era! -
viu-se logo: a tal "bala preta"
esborrachou-se na calçada,
espalhando um fedor daqueles!
E era... um pé de meia preta
que o menino, andando a toa
lá no quintal dos fundos,
arrancou do varal, olhou, olhou,
e - filosofia de quem não tem o que fazer
para quebrar as garras do tédio -,
cagou, encheu metade da meia de bosta,
depois, pegou pelo alto do cano,
e girou, assim, a modo de uma funda;
caprichou no arremesso por sobre a casa,
para cair lá no meio da roda de prosa!
- Acertou! Acertou!
Gritaria... "quem foi, quem foi, pega ele!"
Mas o diabinho já tinha zunido lá
para as bandas do Rio Paranaíba!
Depois, o menino sentiu-se forte:
viu o poder que a merda tem de pôr
um fim nas discussões "de política"!
Sem tirar melhor lição do acontecido,
o menino voltou a contemplar a trabalheira
sem fim das formigas cortadeiras...
olha aquela ali, como vai ligeira,
e a outra lá, com toda aquela carga...
que mistério é esse, meu Deus!
Ah, se em vez de discutir política,
os homens trabalhassem assim...
[... se esse tal menino era eu?!
Ara... Desdigo tudo, tudinho!]
_________________
[Penas do Desterro, 04 de outubro de 2009]