Amar-me

Pergunto-me, todos os dias, se é possível esconder desilusões, esquemas ou lamúrias de um amor (que somente traz dissabores) num armário, arrumadinhas/os numa caixa de papelão desprovida de buracos e no fundinho para não enxergarem a claridade do sol. É possível e já neste instante, essencial?

Foi-nos infundido que para sermos felizes, temos de achar a nossa alma gêmea. Esta lenda já vêm desde a nossa infância, desde a altura da Cinderela em que toda a ação se desenrola para no fim permanecer com o Príncipe ou na época da Bela Adormecida que ficou adormecida durante um século (desprovida de uma única ruga, AHAHAH!) à expectativa do beijo do Príncipe para acordar. Gosto do vocábulo "alma", creio que faz parte do que somos. Mas "alma gêmea" não é, necessariamente, o bônus para conquistar a felicidade. Não consigo imaginar o Príncipe a desiludir a sua princesa, nunca nos colocaram essa ideia à vista e fica tão difícil fantasiar uma condição dessas.

Se ainda estamos na flor da juventude (falo por mim) porque é que temos de nos subjugar a desenganos que nos machucam extraordinariamente? É todo o pavor da solidão. E, da mesma forma, a dimensão dos números. Para muitas pessoas soa melhor um "estou a dois anos" do que um "estou a sessenta dias com...", não é? Acho que é de uma falta de inteligência amar mais outro ser humano do que a nós mesmos em qualquer condição. Chego a conclusões descabidas com esta asseveração, uma vez que são as pessoas de baixa auto-estima que mais se submetem às baixezas que lhe fazem.

Basta ver o rosto da pessoa que julgam que amam para porem tudo atrás das costas e isso não me adentra na cabeça. Não me venham com as justificações típicas "ele fez-me muito feliz, sinto-o e sequer posso explicar..." ou então "quando se ama, esquece-se tudo de ruim".

Na minha condição de jovem (ou então em qualquer outra condição, emprega-se a todas) não vale a pena amar as pessoas que têm tendência a machucar-nos intensamente.

O arrependimento vem muitas vezes ao nosso encontro. Para que é que precisamos de juntá-los com os números? É preferível cortar o mal pela raiz assim que se pode, em muitos casos, do que permitir passar o tempo.

Tatiane Gorska
Enviado por Tatiane Gorska em 04/10/2009
Código do texto: T1848210
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