MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA

Matou a família e foi ao cinema

E sem o sentimento do remorso

Comprou seu ingresso e sua pipoca

E sentou-se.

Vibrou como uma criança ante ao herói que vence

E riu dos vencidos com suas caras de medo

E bebeu seu refrigerante favorito.

Ao fim da projeção não saiu

Em estado letárgico ficou a olhar

O letreiro anunciando os nomes dos atores.

Possuído da fome não saciada pela pipoca

À praça de alimentação grande fila enfrenta

E de bandeja equilibrada como fazem os garçons

Depois de muita procura encontra uma mesa

E saboreia seu lance com a gula dos famintos

Que em noites de natal nada tem

Nem uma companhia nem que seja

Um parco banquete porque a rua sua casa é.

Feliz com o dia que tivera

Volta a casa e entra

A sala escura e abandonada

Das vozes antes ali presentes

O silêncio denuncia ausências.

E caminhando pelos cômodos restantes

Só se depara com o vazio

Nos quartos as roupas passadas

Nos armários caprichosamente guardadas estão

E sobre a cama um álbum de fotos mostra

Pessoas queridas e crianças felizes

Não consegue montar as partes rasgadas

E chora

Porque ali matara sua família e seus tempos queridos

Revisitando a memória trazia

Saudades dos tempos que não voltam mais.

Ali ficou e dormiu

Se sonhou?

Nunca disse e mudamente

Observa da janela as manhãs

E as crianças das ruas donas

E volta aos seus pensamentos

E a janela se fecha.

silvio lima
Enviado por silvio lima em 04/10/2009
Reeditado em 04/10/2009
Código do texto: T1847491
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