Itinerário III
Escrevo:
E nada mais,
nada mais se podia dizer que perturbasse aquele instante.
Olho pelos vidros, olho a tarde e as palavras descem-nos pelo abismo de outras palavras, no âmago das sílabas os sinais acendem de imediato as pálpebras profundas.
Provocar o real, afastar a ilusão exterior como quando se correm as cortinas, um vale de sombras ordenadas
numa insidiosa penumbra.
Do quarto a luz se perfila mais longínqua entre estas horas breves, o corpo silente deitado na sua identidade.
Uma linha de tinta azul, essencial.
Nenhuma hesitação por onde fluem as imagens cinematográficas da memória, as fotografias esbatidas, quem sabe, a existência encenada em cada hora por lembrar.
Nada mais. Fixo os painéis publicitários da vida e acredito, quando a atmosfera duma noite volta ao perfil dos vidros, nada mais neste lugar deserto para inventar.